Solidão... 27/07/05 às 11:30 am
A sensação que uma mulher sente quando descobre que está grávida, também pude sentir. Naquele dia em que conversamos abertamente e você me perguntou se era verdade que te amava. Você foi mais longe e me pediu ainda uma segunda chance. Ingenuamente fui me deixando levar por aquela conversa que parecia ser tão franca e honesta, abri meu coração e lhe revelei que algum tempo atrás havia alimentado algum sentimento por ti, mas que teve vida breve, pois você nunca me deu chance de te contar e nem de me aproximar.
A
partir daquele dia meu coração se animou e começou a preparar-se para te
receber. Como a mãe que encantada enfeita o quarto do filho que espera e fica
imaginando que rosto ele terá, qual será a cor dos seus olhos e qual nome vai
dar-lhe. Arrumava-me, usava o meu melhor perfume para te agradar. Estava sempre
querendo estar em sua companhia e marcava encontros às escondidas para que
pudéssemos ficar á vontade e deixar os sentimentos fluírem. Não passava por
minha cabeça transarmos de imediato. Isto seria uma consequência a qual ninguém
estar imune. As tentativas foram em vão. Você nunca apareceu em nenhum
encontro. Desiludido, ia dormir sem ter a certeza de que o que você falava era
verdade ou mentira.
Uma
mãe espera nove meses para ter a benção de dar a luz e pacientemente conhecer
aquele que habita em seu ventre. Comigo foi mais ou menos parecido. Você marcou
uma data para que pudéssemos nos encontrar e deixar a emoção nos guiar.
Ansiosamente esperei por aquela noite, imaginei cenário e figurino. Preparei-me
psicologicamente para o grande evento. Você não satisfeito ficava alimentando
minhas esperanças lembrando da tal data e
me tratando de uma forma tão meiga que me encantava e ia direto ao meu
ponto fraco: a sensibilidade.embora tenha a aparência de uma rocha por dentro
sou tão frágil quanto uma placa de cristal. A vida foi me endurecendo. De
decepção em decepção, fui aprendendo a me defender. Como ninguém é perfeito me
entreguei aos teus delírios e nem percebi que você envenenava-me paulatinamente.
E naquela noite que era para ser o ápice de nossa relação você deu o golpe
final ou a última dose do teu veneno. Elogiou minha roupa colorida,
tranquilizou o meu nervosismo e insegurança, fez-me forte. Então dancei como
jamais pensei, emitir sorrisos verdadeiros, estava realmente feliz. Não era o
personagem que sorria. O ator estava alegre por acreditar que alguém o
compreendia e esse alguém ia unir-se a ele naquela noite. Terminada a
apresentação fomos todos para o camarim e você por duas vezes me roubou abraços.
Aproveitando a ocasião dos parabéns, me chamou de princesa e marcou a hora que
tudo iria se consumar. Aquele sentimento não iria ser só mais uma utopia e sim
o fruto do desejo de sois seres do mesmo sexo que se desejam e se amam
vorazmente sem nenhum pudor ou preconceito.
Esqueci
que final feliz só existe em contos de fadas ou novelas. Naquela noite pude
conhecer tua verdadeira identidade. Quando chegou a hora marcada você saiu sem
dar nenhuma satisfação, como o gatuno que depois de executar seu trabalho se
retira sem deixar rastros. Meus olhos te seguiram até não mais avistar. Sorvi
então a última dose do teu veneno. A boca secou e um gosto amargo engasgou na
garganta. O coração acelerou e minha cabeça deu voltas seguidas num giro de
trezentos e sessenta graus a ponto de explodir. Ainda te esperei até o final da
noite para ver se você iria voltar. Vã tentativa. Você foi dormir em seu
travesseiro quente. Quanto a mim só restava entregar-me aos sintomas daquele
sentimento mortal que não conseguiu dizimar minha vida, mas dilacerou meu
coração e um sentimento de decepção se alastrou sobre mim, deixando-me
impotente, sem saber por onde continuar. Era só mais uma história que termina
sem um final feliz. Chorei, não lamentando aquele desenlace, mas sim o tamanho
de minha fraqueza.
Você
é muito mais que um sorriso bonito, um rosto de aparência infantil e pernas
torneadas. Você é cruel, parece se satisfazer com o sofrimento alheio. Quem
sabe a maldade tenha a sua cara. Não é de se estranhar, pois LUCIFFER era um anjo
de luz e, no entanto, se transformou na figura que é.
Minha
decepção foi tamanha, não deixando de se comparar aquela mãe que tanto espera
pelo filho e na hora de seu nascimento ele morre.
Não
tenho raiva de você e muito menos lhe desejo o mal. Conforto-me em saber que um
dia você vai pagar por provocar o choro de alguém. Apesar de tudo lhe desejo
sorte e desejo que você seja feliz e aprenda a não mais fazer os outros
sofrerem.
São
tantas as histórias que chegam aos meus ouvidos e ainda te escuto sem saber se
devo acreditar, pois você só me decepcionou. Quem sabe se com teus amigos não
faz piada com meus sentimentos, ou mostra minhas cartas a fim de ridicularizar.
Não. Talvez as mesmas tenham sido rasgadas, ou no máximo permanecem intactas no
fundo de uma gaveta. O CD que te dei não sei se ainda escutou, se escutou, não
deve ter entendido a mensagem, algumas músicas expressam em suas rimas o que
sempre quis te contar e você covardemente relutou em ouvir. Estive sempre em
segundo plano. Entre nós dois existe um mar de gente que você insiste em
colocar em nosso meio, preocupando-se com o que vão falar ou pensar. Saiba que
todo mundo em seu intimo esconde algo de podre, reprime um desejo ou esconde um
segredo e para justificar-se, segue apontado à vida do próximo.
Não
foi em seu ombro que minhas lágrimas rolaram. Mas, foi por você que elas
amargamente fluíram de meus olhos e correram sobre o meu rosto salgando a minha
boca. Em outros braços me apoiei. A outro corpo me entreguei sem, contudo,
negar tua existência. Mas para provar a mim mesmo que consigo despertar o
interesse de alguém. Alimentei o meu ego, porém não consegui te esquecer.
Estou
reunindo forças, colando os cacos que se espalharam, criando coragem pra te
encarar quando te encontrar, pois ainda não sei qual vai ser a minha reação.
Recolhi-me em minha casa, estou evitando sair para que meus amigos não fiquem
perguntando o porquê de meu estado de tristeza. Estou lendo um livro que fala
de um amor sem final feliz e escuto Chico Buarque. Não sei se essas músicas
aumentam minha melancolia, mas parecem ter sido feitas para mim. Odeio-te por
alguns instantes, depois já não tenho certeza do que sinto por você, ainda
lamento por não termos dado certo e nem sei se vai haver outra tentativa. Estou
muito machucado para tentar novamente. Pode ser que da outra vez o barco
naufrague.
Não
sei se vou te entregar essa carta, quem sabe um dia ela chegue até a você. Por
enquanto é só um desabafo.
Martins Anastácio