quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Amor, a Outra Face...

                                                    

             Solidão... 27/07/05 às 11:30 am



      A sensação que uma mulher sente quando descobre que está grávida, também pude sentir. Naquele dia em que conversamos abertamente e você me perguntou se era verdade que te amava. Você foi mais longe e me pediu ainda uma segunda chance. Ingenuamente fui me deixando levar por aquela conversa que parecia ser tão franca e honesta, abri meu coração e lhe revelei que algum tempo atrás havia alimentado algum sentimento por ti, mas que teve vida breve, pois você nunca me deu chance de te contar e nem de me aproximar.
A partir daquele dia meu coração se animou e começou a preparar-se para te receber. Como a mãe que encantada enfeita o quarto do filho que espera e fica imaginando que rosto ele terá, qual será a cor dos seus olhos e qual nome vai dar-lhe. Arrumava-me, usava o meu melhor perfume para te agradar. Estava sempre querendo estar em sua companhia e marcava encontros às escondidas para que pudéssemos ficar á vontade e deixar os sentimentos fluírem. Não passava por minha cabeça transarmos de imediato. Isto seria uma consequência a qual ninguém estar imune. As tentativas foram em vão. Você nunca apareceu em nenhum encontro. Desiludido, ia dormir sem ter a certeza de que o que você falava era verdade ou mentira.
Uma mãe espera nove meses para ter a benção de dar a luz e pacientemente conhecer aquele que habita em seu ventre. Comigo foi mais ou menos parecido. Você marcou uma data para que pudéssemos nos encontrar e deixar a emoção nos guiar. Ansiosamente esperei por aquela noite, imaginei cenário e figurino. Preparei-me psicologicamente para o grande evento. Você não satisfeito ficava alimentando minhas esperanças lembrando da tal data e  me tratando de uma forma tão meiga que me encantava e ia direto ao meu ponto fraco: a sensibilidade.embora tenha a aparência de uma rocha por dentro sou tão frágil quanto uma placa de cristal. A vida foi me endurecendo. De decepção em decepção, fui aprendendo a me defender. Como ninguém é perfeito me entreguei aos teus delírios e nem percebi que você envenenava-me paulatinamente. E naquela noite que era para ser o ápice de nossa relação você deu o golpe final ou a última dose do teu veneno. Elogiou minha roupa colorida, tranquilizou o meu nervosismo e insegurança, fez-me forte. Então dancei como jamais pensei, emitir sorrisos verdadeiros, estava realmente feliz. Não era o personagem que sorria. O ator estava alegre por acreditar que alguém o compreendia e esse alguém ia unir-se a ele naquela noite. Terminada a apresentação fomos todos para o camarim e você por duas vezes me roubou abraços. Aproveitando a ocasião dos parabéns, me chamou de princesa e marcou a hora que tudo iria se consumar. Aquele sentimento não iria ser só mais uma utopia e sim o fruto do desejo de sois seres do mesmo sexo que se desejam e se amam vorazmente sem nenhum pudor ou preconceito.
Esqueci que final feliz só existe em contos de fadas ou novelas. Naquela noite pude conhecer tua verdadeira identidade. Quando chegou a hora marcada você saiu sem dar nenhuma satisfação, como o gatuno que depois de executar seu trabalho se retira sem deixar rastros. Meus olhos te seguiram até não mais avistar. Sorvi então a última dose do teu veneno. A boca secou e um gosto amargo engasgou na garganta. O coração acelerou e minha cabeça deu voltas seguidas num giro de trezentos e sessenta graus a ponto de explodir. Ainda te esperei até o final da noite para ver se você iria voltar. Vã tentativa. Você foi dormir em seu travesseiro quente. Quanto a mim só restava entregar-me aos sintomas daquele sentimento mortal que não conseguiu dizimar minha vida, mas dilacerou meu coração e um sentimento de decepção se alastrou sobre mim, deixando-me impotente, sem saber por onde continuar. Era só mais uma história que termina sem um final feliz. Chorei, não lamentando aquele desenlace, mas sim o tamanho de minha fraqueza.
Você é muito mais que um sorriso bonito, um rosto de aparência infantil e pernas torneadas. Você é cruel, parece se satisfazer com o sofrimento alheio. Quem sabe a maldade tenha a sua cara. Não é de se estranhar, pois LUCIFFER era um anjo de luz e, no entanto, se transformou na figura que é.
Minha decepção foi tamanha, não deixando de se comparar aquela mãe que tanto espera pelo filho e na hora de seu nascimento ele morre.
Não tenho raiva de você e muito menos lhe desejo o mal. Conforto-me em saber que um dia você vai pagar por provocar o choro de alguém. Apesar de tudo lhe desejo sorte e desejo que você seja feliz e aprenda a não mais fazer os outros sofrerem.
São tantas as histórias que chegam aos meus ouvidos e ainda te escuto sem saber se devo acreditar, pois você só me decepcionou. Quem sabe se com teus amigos não faz piada com meus sentimentos, ou mostra minhas cartas a fim de ridicularizar. Não. Talvez as mesmas tenham sido rasgadas, ou no máximo permanecem intactas no fundo de uma gaveta. O CD que te dei não sei se ainda escutou, se escutou, não deve ter entendido a mensagem, algumas músicas expressam em suas rimas o que sempre quis te contar e você covardemente relutou em ouvir. Estive sempre em segundo plano. Entre nós dois existe um mar de gente que você insiste em colocar em nosso meio, preocupando-se com o que vão falar ou pensar. Saiba que todo mundo em seu intimo esconde algo de podre, reprime um desejo ou esconde um segredo e para justificar-se, segue apontado à vida do próximo.
Não foi em seu ombro que minhas lágrimas rolaram. Mas, foi por você que elas amargamente fluíram de meus olhos e correram sobre o meu rosto salgando a minha boca. Em outros braços me apoiei. A outro corpo me entreguei sem, contudo, negar tua existência. Mas para provar a mim mesmo que consigo despertar o interesse de alguém. Alimentei o meu ego, porém não consegui te esquecer.
Estou reunindo forças, colando os cacos que se espalharam, criando coragem pra te encarar quando te encontrar, pois ainda não sei qual vai ser a minha reação. Recolhi-me em minha casa, estou evitando sair para que meus amigos não fiquem perguntando o porquê de meu estado de tristeza. Estou lendo um livro que fala de um amor sem final feliz e escuto Chico Buarque. Não sei se essas músicas aumentam minha melancolia, mas parecem ter sido feitas para mim. Odeio-te por alguns instantes, depois já não tenho certeza do que sinto por você, ainda lamento por não termos dado certo e nem sei se vai haver outra tentativa. Estou muito machucado para tentar novamente. Pode ser que da outra vez o barco naufrague.
Não sei se vou te entregar essa carta, quem sabe um dia ela chegue até a você. Por enquanto é só um desabafo.

                                                                                                                  Martins Anastácio