Sobral, 27/06/12 às
01:00 pm
A
vida é um tanto quanto irônica. Aproxima-nos das pessoas, nos faz envolver-se,
doar-se e viver num estado total de entrega e depois leva embora. Deixando uma
lacuna, indicando que alguém especial passou por ali.
Quando estamos acostumados a viver, respirar e
compartilhar os mesmos espaços, somos obrigados a aceitar a ausência dessa
pessoa! Que de uma hora para outra se afasta, da mesma forma que chegou
inesperadamente conquistando-nos com gestos, palavras e atitudes, deita-se em
nossa intimidade, desfruta de nossos desejos secretos, conhece a outra face que
tentamos esconder de nós mesmos, por vergonha ou medo de ser exatamente como
deveríamos ser, infelizmente a sociedade moderna nos condiciona a viver de uma
forma fria e vazia.
Difícil
mesmo é aprender a conviver com o silêncio, o espaço sobrando, não ter mais que
se preocupar se a companhia outrora julgada especial e única estar bem? O
compromisso marcado, não precisar mais inventar argumento para estar próximo do
alvo do desejo, nem ter que aturar uma música chata, disputar a posse do
controle remoto e muito menos aturar aquelas pessoas chatas que por
coincidência fazem parte do mesmo ciclo de amigos. Isso tudo dói! Por que antes
estávamos embriagados pelo doce néctar da convivência e agora estamos envenenados
pelo amargo da ausência.
A
roda do destino continuou girando, em seu eterno ciclo de momentos e ocasiões.
Viveu
novas emoções, mudou de cidade, arranjou outros empregos, procurou rir em novas
companhias, deixou o cabelo crescer, cortou, mudou de visual tantas vezes para
em nenhum momento parecer com aquele que sofria calado. Curtiu outros estilos
musicais, interessou-se por outros gêneros de filmes, entregou-se a outras
formas de prazer, abraçou outros corpos, já não se deixava dominar e agora
assumia o papel de protagonista do ato, testando novas posições e abusando do
uso de brinquedinhos para incrementar. Não se deixou levar por paixões porque
estava focado em outros objetivos, planos e projetos.
Estava
indo tudo bem, feliz com sua nova rotina até que um golpe de sorte/azar nem sei
julgar! Acho que retornei ao passado, nem mesmo sei, só lembro-me do verso de
Vinicius de Moraes que declarava: “A vida é arte do encontro, embora ela seja
feita de desencontro!” Lá estava de novo a vida pregando-lhe uma peça, usando
seu exército de seres invisíveis e enigmáticos para aproximar duas pessoas que
percorreram caminhos contrários, separados por gostos e desejos diferentes.
De
novo frente a frente! Ele já não era mais o mesmo, o outro também não. Não se
apresentaram por que não cabia meras formalidades, elogiaram um ao outro,
falaram do presente e de planos futuros. E o passado que viveram? Ele, ainda
queria comentar como sentiu falta, como foi doloroso reaprender tudo sozinho.
Mas, o outro, não abriu guarda, era como se fosse um amigo novo, ainda
precisava ser conquistado. Como todo adulto metido a besta era preciso criar
vínculo, ter algo em comum, diferentemente das crianças que se entregam com
facilidade.
Havia
entre os dois um enorme espaço. Ele não entendia porque só ele lembrava: do
choro na noite chuvosa, quantas estrelas viram cair e se perder no meio do
mato, de quantas e quantas vezes se amaram loucamente, do gosto do corpo dele
dentro de sua boca, de como ele gostava de ser pego bruscamente, das conversas
intermináveis ao telefone. O outro esquecera o quanto era gentil, companheiro,
atencioso, brincalhão. Tornara-se uma pessoa fria, rude, mentirosa e acima de
tudo interesseira. Desprovido de sentimentalismo e recordações.
Definitivamente,
era melhor ter a lembrança de uma pessoa doce do que a certeza de uma pessoa
amarga! Será que toda vez que nos reencontrarmos vai ser sempre uma nova
pessoa?
Martins Anastácio